Cancro meu: Tipos de cancro de mama - a descoberta

Quando somos confrontadas com a dura realidade de termos um cancro de mama, tudo nos passa pela cabeça!

É um turbilhão de pensamentos. Sobretudo quando não estamos preparados para tal (não é que se possa estar preparado... mas há mulheres que têm casos na família e que, pelo menos, já imaginaram este cenário alguma vez na vida). 

Aquilo que eu senti foi medo e confusão...assim meia perdida no meio de tanta informação.

As pesquisas na internet e a conversa com algumas pessoas conhecidas que passaram pela mesma situação ou que conhecem alguém que está a passar ou passou ainda gera mais confusão!!

Afinal, quando temos a notícia pela primeira vez, apenas sabemos que temos um carcinoma, mais nada!! E o cancro de mama é como aquelas bonecas matrioskas! 

Primeiro o choque, o grande impacto e depois vamos abrindo, abrindo e descobrindo mais. E no final ficamos com um diagnóstico preciso, com a noção exata do que se passa. É um caminho, uma viagem, nem sempre fácil, feita de altos e baixos.

No meu caso, soube num primeiro momento que tinha carcinoma. 

Não consigo esquecer o choque de ler o resultado, enquanto falava com a minha mãe ao telefone-  " citologia positiva para células malignas - carcinoma"

Custa tanto... O coração fica apertado e invade- nos uma sensação de medo. Medo de morrer.

Passado uma semana soube que era ductal, invasor, grau III. Nesse mesmo resultado, que abri com o meu marido, num café em frente ao laboratório de análises Dr Campos Costa na baixa, podia ler ainda : " Evidencia-se sinais sugestivos de invasão vascular linfática". 

Nunca devia ter aberto este exame, pois foi o maior choque da minha vida!

Estava cheia de esperança que fosse um carcinoma simples... Tipo " in situ", localizado... Ou até que pudesse ser um falso positivo e afinal tudo não passasse de um pesadelo do qual estava prestes a acordar.

Mas não! Deparo-me com palavras como GRAU 3 ( já sabia ser o pior), INVASOR, e INVASÃO  VASCULAR LINFÁTICA!! Foi o fim! Chorei aos soluços, sem conseguir parar...tão aflita, completamente chocada e incrédula.., parecia- me uma sentença de morte. Por momentos achei que tinha o cancro espalhado por todo o corpo e teria alguns dias ou meses de vida!!!

Só conseguimos pensar que não queremos morrer!! Não é a hora! Porquê a mim???Só de pensar e estar  a escrever isto, sinto o mesmo aperto no peito...

O meu marido estava em choque, tentava acalmar-me mas nem ele sabia como...mas a mera presença dele ao meu lado, aquele abraço, aquele calor dele já era suficiente para me sentir protegida! 

Percebi rapidamente que o que quer que acontecesse, ele estaria sempre, incondicionalmente ao meu lado... Senti que ele preferia que tudo se estivesse a passar com ele... Foram emoções muito fortes que ambos sentimos naquele longo dia.

Em 12 anos nunca o tinha visto a chorar... E naquele momento senti que não podia desistir... Pelas pessoas que amo. 

Quando pensava que já tinha descoberto tudo, eis que, depois da operação, recebo o resultado do subtipo molecular do tumor - a análise imuno histoquimica, que permite avaliar os biomarcadores do tumor que são as proteínas que controlam as funções das células tais como crescimento ou morte celulares. 

Determinados tipos de cancro de mama (a maior parte) têm, nas suas células, receptores positivos para estrogenio e progesterona ( quer dizer que são hormono dependentes) e podem também ser positivos para o HER2.

Para estes casos, existem mais hipóteses de tratamento. Para além da quimio e radioterapia, a mulher pode ainda fazer a chamada hormonoterapia, que é um grande aliado na cura e evita a recidiva de uma forma muito eficaz!! 

Existem outro tipo de cancros - O MEU- que não tem nenhum desses 3 receptores... E então chamam-lhe triplo negativo.

Este tipo de cancro é mais agressivo, cresce mais rapidamente e tem maior hipótese de metastizar e recidivar.

Como é o mais raro ( cerca de 14% dos cancros de mama), é o menos estudado e é o que oferece um menor leque de tratamentos.

As boas notícias? É um tipo de cancro que normalmente responde muito bem à quimioterapia (melhor que os outros), as possibilidades de recidiva ao final de 5 anos são quase inexistentes (melhor também que nos outros). 

Agora cabe-me ver o copo meio cheio ou meio vazio! E eu optei por ver o lado positivo e acreditar que tudo vai correr bem e que a quimioterapia vai matar qualquer  vestígio do "bicho" que aqui possa andar!

Abrindo mais uma boneca matrioshca, ainda aparece outra! 

Como tenho este tipo de carcinoma triplo-negativo, tenho indicação para fazer um exame chamado BRCA 1 e BRCA 2 ( iniciais de Breast Cancer Susceptibility) que é um exame ao sangue que vai permitir perceber se temos no DNA o gene do cancro da mama.

É um exame conhecido por algumas pessoas pois foi o que fez a atriz Angelina Jolie e que deu positivo, tendo ela optado por tirar ambas as mamas e ovários como precaução (quando dá positivo a chance de ter cancro da nana ao longo da vida é enorme)

Como a maior arte dos cancros de origem genética ( positivos para estes BRCA) são triplo negativo, a oncologista pediu para  eu fazer a análise que deu NEGATIVA!

Fiquei contente porque se desse positivo, teria de retirar a outra mama e talvez os ovários pois a hipótese de vir a ter cancro nesses locais seria muito grande.

Foi uma boa prenda de anos!! 

Beijinhos!