Cancro meu: Cancro nosso
Passaram quase 6 meses desde que descobri este cancro que chamei de meu.
À medida que o tempo passava, cada vez o sentia menos meu, porque a verdade é que esta doença não é só nossa, é de todos os que nos amam e nos querem bem. Sou eu que a carrego no corpo, mas na alma não, nunca estive sozinha.
Por isso pedi a algumas pessoas especiais que partilhassem aqui no blog como viveram e sentiram todo este percurso...este ciclo não poderia fechar sem os seus testemunhos.
Filipe (marido)
O meu amor pediu-me para descrever o que senti com a vivência dos últimos 6 meses... começo por dizer que tem sido a experiência emocional mais complexa e difícil q já tive de gerir.
O dia no qual soubemos em conjunto o resultado do exame, foi um dos mais difíceis dias da minha vida ... afinal estou ao teu lado para te amar, proteger, ajudar e foi tão difícil ver-te triste, a chorar e sem esperança que me senti por momentos completamente impotente.
Chorei de alegria quando vi a tua esperança crescer, voltei a chorar de alegria quando os testes de invasão linfática deram negativos, sofri muitas vezes por vontade de estar perto de ti enquanto trabalhava, mas a verdade é que desde o início, tens sido um exemplo de força, determinação, positividade e Amor. Sim, eu que te conheço, sei que é o Amor que sentes por todos nós que também te dá essa incrivel maneira de ser e vontade de viver. És mesmo especial, eu nao consigo ser assim, e adorava conseguir.
É mútuo Amor, também te Amo!! E admiro-te muito e cada vez mais ... pela forma como me proteges dos teus momentos menos bons, como garantes que o Francisco e o Bernardo não sintam diferença nenhuma na mamã do antes e do depois, como nos ensinas todos os dias a sermos felizes. E eu sou feliz Amor, feliz sobretudo por te ter conhecido e por me teres escolhido.
A vida dá de facto muitas voltas, dito de outra forma, troca-nos as voltas, e a ela, à vida, peço-lhe muitas vezes que aconteça o que acontecer, tu estejas sempre ao meu lado. Tu e a linda família que construímos. Amo-te, hoje e sempre!! Beijo
Elisa (mãe)
A vida vai-nos pregando algumas partidas difíceis, mas quando isso envolve os nossos filhos, há que ter energia reforçada...
Quando soube o que se estava a passar, e fui a primeira, o meu coração 'congelou', mas apenas por um segundo; era preciso procurar uma solução rápida e eficiente. Mãos à obra, sem tempo a perder. Os sentimentos foram de 'vamos à luta' e passadas poucas horas já havia uma hipótese de 'exército' preparado para agir.
O meu principal receio era ser Agosto, mês em que muita gente goza as suas merecidas férias, mas passados 12 dias, lá estávamos nós na Cuf.
Não havia experiências destas na família, era tudo um pouco novo, mas estávamos confiantes na excelente equipa médica: o Dr. Fleming, um grande especialista e um grande humanista, o Doutor Moutinho Ribeiro, um amigo dos tempos da juventude, um 'irmão'. Sabíamos que não podíamos estar em melhores mãos!
As 6 horas de espera foram longas, mas sempre acompanhadas pelos que nunca falham nos momentos difíceis: a Nené, a Cacá e o Filipe. Também a Margarida Moutinho quis estar junto de nós; também ajudou uma presença com muita experiência.
O bar da Cuf é um local simpático, onde passámos algum tempo, e foi lá que o cirurgião plástico nos deu a primeira boa notícia: os gânglios sentinela não tinham sido atingidos e a operação (longa e difícil) estava a correr bem. Com a sua simpatia, o Dr. Pedro Silva foi um importante calmante de emoções. Vi o meu querido genro chorar pela primeira vez, mas o nosso abraço foi de vitória.
Quando a Inês chegou do recobro, vinha muito baralhada, mas lembrava-se de que o Dr. Fleming lhe tinha dado uma boa notícia.
As horas que se seguiram não foram fáceis, as dores na barriga eram muitas e só a morfina as aliviava. Havia sede, mas não se podia beber, só se molhavam os lábios com uma cotonete especial. Havia muitos drenos, mas muita energia positiva e, ao fim de 4 ou 5 dias, tudo estava a voltar ao 'normal'. As visitas eram poucas, a nosso pedido, para que nada afectasse a nossa heroína, mas a corrente de energia positiva era muito grande.
A notícia da fase seguinte do tratamento deixou-me inquieta, mas a partir do momento em que se escolheu o melhor sítio e a melhor equipa, o ânimo regressou (obrigada, Filipe).
Não foi nada fácil enfrentar esta nova etapa: o peso da palavra é grande, não sabíamos como o corpo e o espírito iam reagir, mas já estávamos com a retaguarda da terapia quântica e do sucesso que a prima Yolanda tem tido.
Entretanto, lá vamos nós à Paula Sá, grande psicoterapeuta e amiga do coração; aí sim, a catarse foi-se fazendo, as lágrimas foram saindo e as energias repondo-se.
Vem o primeiro tratamento, as mensagens constantes e tudo estava a correr bem...só podia, com toda a energia positiva desta filha maravilhosa e de todos quantos a rodeiam (obrigada Filipe, Daniela, Cacá, Matilde, Nanico, Elsita, Susana, madrinha, sogrinhos, cunhadinhas e todos os outros que é impossível nomear, mas que estiveram perto de nós, em pensamento, em presença ou apenas em corrente de energia positiva...e são tantos os nossos Amigos).
Iniciámos pesquisas sobre alimentação macrobiótica, vegetariana, sobre reiki e quântica, e rodeámo-nos de tudo que havia para ajudar a matar o 'bicho'. E a Inês inicia o seu blog, onde tem transmitido a todas as mulheres o que vai sentindo e o que vai fazendo para superar todo este 'pesadelo', com o objectivo de ajudar quem está em situação semelhante e desdramatizar o peso da palavra cancro. E são mais de 10.000 as visualizações! Fantástico!
Agora, o veneno necessário entrou e esperamos que tenha exterminado este malvado bicho. Vamos continuar na luta, atentas, conscientes, com boa alimentação, exercício físico e.....muito Amor, aquele que um ser como a Inês gera automaticamente.
Estarei sempre ao teu/vosso lado.
Naquele dia, íamos saber o teu resultado. Lembrei-me na véspera, e no dia anterior.
Confesso que todos os dias me lembrava quantos faltavam para saberes o resultado, embora te escondesse a minha inquietação. Nesse dia de manhã, liguei-te. Ainda não tinhas o resultado, nem tinhas saído de Vila do Conde. Nada que me surpreendesse. Continuavas a fazer a tua vida, sem pressas.
Estava no carro, a caminho da CUF, quanto te liguei novamente. Estavas a chegar ao laboratório. A tentar parecer despreocupada, disse-te “então, liga-me depois”. Quando desliguei o telefone deparei-me com uma senhora, a atravessar a rua, de lenço na cabeça. A “marca” exterior que nos lembra que aquela pessoa teve cancro e fez / faz quimioterapia. A dúvida assaltou-me. E naquele momento, preparei-me para o pior.
Poucos minutos depois, o telemóvel tocou. E só ouvi o teu choro. Toda a gente chora, mas tu não! Não foi preciso falar. Todo o meu mundo se desmoronou. Disse-te aquilo que acredito: que a taxa de cura é grande e que vais ficar bem. E preparei-me para te dar colo.
Revoltei-me muito. E pela primeira vez na vida não te podia contar, não te podia mostrar o quanto estava assustada, aflita… queria-te aqui, como minha amiga, muitos anos!! Ao longo da vida, caminhamos juntas nas várias fases: o primeiro cigarrito aos 12 anos (que tu quase me obrigaste a fumar!!!), as festas até de manhã, as viagens pela Europa, as duas gravidezes, ao mesmo tempo. E agora, o cancro. Não, não podia ser. A minha melhor amiga não podia ter cancro! E então quando formos velhinhas? Ainda temos tanto para passar e viver. E o cancro não é compatível com juventude! E tu amamentaste e tiveste filhos…não pode ser.
Passou a fase da incredulidade. Aceitei que tinhas cancro e preparei-me para te ajudar. Agora que o processo está a acabar, não sei quem ajudou quem… eu sinto que não te ajudei, porque tu não precisaste e porque tens mais força do que dez Elsitas juntas!! (E Elsitas sem síndrome pré-menstrual...)
Todos os dias esperava ouvir o pior: os vómitos, a queda de cabelo e pestanas, o inchaço, o desânimo. Mas esse dia nunca chegou! Se é verdade que o cancro é uma doença que atinge não só o doente, mas também os familiares e amigos, é mais verdade ainda que tu nos fizeste esquecer o problema. Observar a forma como tu lidaste com a doença, fez-me sentir muito orgulhosa. Orgulhosa de ti, por seres uma pessoa corajosa, cheia de cor e luz!
Amiga, se algum dia essa força se desvanecer, lembra-te que o mundo precisa de pessoas como tu. E além do mundo, eu preciso muito de ti, irmãzinha do coração.
Hoje é o último dia do ano. Só desejo uma coisa: que tenhas muita, muita, muita saúde!
Xi-coração!
Elsita
Luísa (amiga)
Existem coisas para as quais nunca estamos preparados. Por mais exemplos que tenhamos visto. Por mais conselhos que outras pessoas nos tenham dado. Porque, quando a realidade não é nossa, por mais que queiramos perceber, nunca temos a real noção do que se passa.
Vivi um destes momentos com a minha amiga Inês. Tinha conhecimento de várias histórias de cancro da mama. Tinha recebido conselhos de pessoas que viveram dramas muito piores do que aquele que a Inês está a viver, mas assim mesmo não queria acreditar que a Inês iria passar por todo esse doloroso processo. Porquê a Inês!?
Para esta pergunta, nunca consegui obter uma resposta, apenas uma reflexão:
"Há momentos em que só desta forma aprendemos que mais vale que a vida se desconstrua, se vire do avesso e nos mude as perguntas para as respostas que julgamos ter, para depois fazermos as coisas de uma outra forma, mais forte, melhor (e é sempre melhor, garantidamente)".
Confesso que me "preparei" para o pior e acabei por encontrar o melhor. Sobretudo pela fantástica força que a Inês tem. Pois para ela é apenas mais um passo/ etapa na sua luta pelo seu objectivo de vida.
Obrigada pela excelência de pessoa que és e por nos fazeres perceber e interiorizar a:
Dar importância apenas ao que tem fundamento e deixar de lado o que não acrescenta nada ou que não nos faz bem.
Ir sempre até onde a força permitir, e perceber que há em nós um bocadinho mais de uma força que nem sonhávamos existir. Mas está lá.
Gostar e amar sem pedir nada em troca, perceber como isso é reconfortante.
Saber que é tão bom encontrarmos o nosso caminho, mas aceitar que não tem nada de errado se às vezes nos perdermos.
Manter um sorriso na cara e não deixar de acreditar, mesmo quando a vida fecha uma porta (ou várias).
Perceber que não conseguimos abraçar o mundo inteiro, mas que é sempre possível abraçar algumas pessoas e fazer toda a diferença.
O tempo voou... A meta está aqui. E és a carequinha mais bonita e especial do mundo.
Adoro te! Muuuiiitttooooo!
Daniela (irmã)
Mana linda, que grande desafio que a vida te lançou. E tens razão, não só a ti, mas a todos os que te amam!
Tudo começou a 28.07.2015. Acordei agitada nessa madrugada por causa de um pesadelo. Coisa estranha para mim que há muito deixara de sonhar. Talvez uma prova do amor que nos une.. da ligação que temos, pois nesse dia começou mesmo um período agitado com a notícia da realização da biópsia e todas as aventuras que se seguiram.
Não escondo, a primeira reação foi o desespero e depois a apreensão e o medo.. e lá começou um novo período nas nossas vidas em que fomos todos buscar forças para lutar ao teu lado.
As prioridades do dia a dia desapareceram e passamos todos a dar mais valor ao que realmente importa. Quem sofreu na pele foste tu, mas foi de ti que veio toda a energia, todas as melhores respostas e as soluções para todos os grandes desafios.
És um ser humano maravilhoso, e apesar de sermos nós a tentar ajudar-te, tens sido tu a ajudar toda a gente. É impressionante como te consegues alhear dos teus problemas para cuidar dos teus filhos ou para tratar uma simples queimadura da tua irmã desastrada.. é impressionate como te viram do avesso e tu te levantas e fazes face a tudo como se quase nada tivesse acontecido.. é impressionante como encaras um tratamento de quimio como um momento para ajudar outros, enfim.. como transformas o mau em bom.. Quis dar-te coragem nos últimos 5 meses e meio que também foram os mais dificeis da minha vida, mas foste tu que ma deste.. coragem e uma lição de vida.
Nada que me surpreenda hoje, quando olho para a nossa vida juntas. Só voltaste a mostar o ser humano especial que és <3
Sem palavras...
Sem palavras Inês... ÉS grande <3
ResponderEliminarQuerida heroína um dia de julho ou inicio de agosto não tenho noção da data mas creio que foi julho, fui por o lixo cá em baixo e vejo-te a chorar perto da tua sogra. Fiquei chocada pois só te conhecia feliz e aquele momento achei muito estranha. Falei com o Tony e ele disse viste mal....mas fiquei com uma inquietação... Passados uns dias aconteceu um percalço à minha pessoa. Não vos vi por cá achei estão de férias, contudo andava inquieta e qd vi um dia o Filipe sozinho com os meninos achei muito estranho vocês são uma família muito unida e faltavam tu (estava eu no café). Passado um dia depois dessa situação me disseram, caiu-me o chão fiquei chocado chorei, porque a ti? E a essa família fantástica? Foi um choque para todos nós (Teresinha e Eduardo) pois tivemos um caso de sucesso de família. Eles sabem o que ela passou o qt difícil é.
ResponderEliminarTu surpreendes-te-me aparece uma heroína forte, que através de cada adversidade transformas tudo que parece tão simples.
Bem já me expandir demais PARABÉNS AO TEU AMOR (FILIPE E MÃE) são fortes pilares.
Parabéns minha heroína a forma fantástica que és saudades e beijinhos de todos nós.
Sofia, muito obrigada por tudo. Foste uma pessoa espetacular durante estes últimos meses, assim como a rua linda família, sempre com uma palavra reconfortante e de força! Foi um privilégio partilhar o mesmo prédio, o mesmo andar e uma amizade que cresceu e ficará no meu coração. Beijinhos e que tudo te corra como mereces
EliminarDia 28.07.2014, recebo uma mensagem da Inês Costa por volta das 20 horas a dar-me a triste noticia que a biôpsia, espero pela chegada dela a casa e eu e a minha esposa nos dirigimos logo a dar-lhe o nosso apoio para o periodo que se irá passar, no dia 12 de Agosto de 2014 recebo uma mensagem do Filipe Rios a dar-me a noticia da operação da Inês Costa a qual a deixo aqui textualmente; O lá Sr. Fernando, a operação da Inês correu muito bem, o cancro estava localizado na mama, muito boas noticias e motivadoras para a próxima fase de tratamento. obg e abr Filipe Rios. Já nessa altura já todos nó pedia-mos a ajuda para a nossa amiga para conseguir passar o mau tempo e que para ela ter sempre o pensamento positivo que ela iria passar este obstáculo e com a ajuda de Deus e com a nossa corrente de amigos ele chegou ao fim dos seus tratamentos com uma força que só uma mulher como ela consegue manter toda a sua calma e com o brilho do seu belo sorriso que é contagioso para todos nós. MATEM SEMPRE O TEU PENSAMENTO POSITIVO AMIGA, um beijinho
ResponderEliminarObrigada pela sua amizade sincera ao longo destes últimos anos. Beijinhos com saudades
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