Cancro meu: depois dos tratamentos - próximos passos

Na semana passada tive a minha primeira consulta pós tratamentos (quimio e radioterapia) com a oncologista Dra Margarida Damasceno que saiu do Hospital Cuf e agora está a trabalhar no HPP Lusíadas na Boavista. Também lá encontrei o enfermeiro Lino, o que me acompanhou durante a quimioterapia. Senti-me, desde logo, bem acompanhada!

Falei com a médica durante mais de uma hora e consegui esclarecer muitas dúvidas. Esta oncologista é muito experiente e reconhecida ( é diretora de serviço de oncologia do hospital de São João) e tem uma forma muito descontraída de abordar os assuntos. 

Imagino que para estes médicos não seja fácil lidar diariamente com uma realidade tão complicada e sensível  como esta, por isso sinto que, de alguma forma, esta descontração em falar sobre cancro é também uma defesa que eles encontram para melhor lidarem com o seu dia a dia.

Nesta fase vou ter de fazer  uma cintigrafia óssea. É uma técnica muito sofisticada onde se utiliza uma pequeníssima dose de uma substância química radioactiva (radiofármaco), administrada por via endovenosa, que percorre os ossos (neste caso, porque é óssea) e funciona como um marcador que ajuda a detetar a presença de cancros, traumatismos, infecções ou outras doenças. Um dos sítios mais comuns onde as células cancerígenas podem reaparecer é nos ossos, daí a importância deste exame.

Também terei de fazer análises gerais ao sangue e depois a cada 6 meses as análises aos marcadores tumorais. Alertou-me para o fato destes exames gerarem muito stress na paciente e de isso ser normal. 

Acho que fiquei um pouco traumatizada quando abri, ao longo de todo este processo, os vários envelopes com a identidade do meu "agressor" ( ver post "cancro meu: tipos de cancro: a descoberta").  São momentos tão violentos, que ficam tatuados na nossa memória, e a partir de então, tudo o que nos faça recordá-los, deve doer...

Agora que o período menstrual já apareceu (este mês, pela primeira vez! Iupiiiiii), alertou-me para a necessidade de utilizar um método contraceptivo eficaz. 

Explicou-me que não é por causa da doença que tive que não devo engravidar (o meu tipo de carcinoma não era hormono-dependente), mas antes pela operação a que fui submetida, onde abriram a barriga para tirar gordura e músculo para a mama e colocaram uma "rede" no seu interior, o que torna perigosa uma gravidez pois esta rede impede que a barriga distenda. 

Por isso, "no more babies"! E eu que tanto queria ter uma menina... ;-)

Estivemos ainda a falar um pouco sobre o tipo de cancro que tive - o TRIPLO NEGATIVO e a desmistificar algumas ideias. Explicou-me que este tipo de cancro é considerado agressivo porque é sempre grau 3. Todos os triplo negativos são grau 3.  Os cancros da mama são classificados quanto à diferenciação das suas células face às células normais e também quanto à velocidade do seu crescimento.

Existem em 3 graus: 

Grau 1- células bem diferenciadas (as células cancerígenas são muito parecidas com as células normais e o seu crescimento é lento)

Grau 2 - células moderadamente diferenciadas (as células cancerígenas são menos parecidas com as normais e o seu crescimento é mais rápido)

Grau 3- células pouco diferenciadas (as células cancerígenas são muito diferentes das normais e têm um crescimento, por norma, muito rápido). 

Esta nomenclatura é válida para os cancros invasores ( que significa que têm células capazes de se espalhar para outras partes da mama ou mesmo para o corpo. Não significa que já passou ou vai passar! Apenas que tem potencial para tal).

Nos cancros in situ (localizados na mama, sem sequer se terem espalhado para o tecido da mama) a designação dos graus é: baixo, intermédio e alto.

Depois ainda existe o cancro secundário ou metastático. Também designado por grau 4. É quando as células do cancro da mama se espalham do tumor primário na mama para outras partes mais distantes no corpo (as mais comuns são o fígado, pulmões, ossos ou cérebro), através da circulação sanguínea ou do sistema linfático.

A médica explicou-me que, mesmo neste tipo de cancro mais avançado, existem muitos casos com boas hipóteses de tratamento que poderão dar uma vida com qualidade às pacientes. Funciona quase como uma doença crónica, tipo diabetes.  A mulher tem de ser sempre seguida, tratada e terá de aprender a viver com ela. 

A médica referiu ainda que tem várias pacientes com cancro secundário que estão a ser seguidas e tratadas há anos e que têm conseguido ter uma vida normal. 

Saí de lá confiante. Mesmo nos casos mais complicados, temos de acreditar que é possível vencer! E vencer, aqui, significa viver intensamente, um dia de cada vez, (que é no fundo o que todos, com ou sem doença, devíamos fazer!)

Beijos e bom fim de semana :-)

E este cabelinho, hein?? O meu marido até tem inveja deste penteado ;-))