5 anos depois do diagnóstico





Já passaram 5 anos desde o meu diagnóstico de cancro de mama triplo negativo e a oncologista que me acompanhou desde essa altura, a Dra Margarida Damasceno faleceu recentemente com cancro do pulmão.

Ainda hoje, ao entrar no corredor do hospital, parece que a vejo a passar, apressada, pele muito morena, corpo magro e sempre elegantemente vestida. Era estranhamente simpática, à primeira vista um pouco fria, mas com o passar do tempo, conseguíamos perceber que era muito boa pessoa, uma profissional super dedicada.
Trabalhou até às últimas, sempre sem dar parte fraca, mantendo aquele porte fino e imponente. A esta médica quero deixar um gigante obrigada por tudo aquilo que fez por mim...

                                        

Quem diria que a minha tão esperada e sonhada consulta, a do final dos 5 anos, já não seria feita por ela...
Afinal, a médica que cura cancros , teve um cancro e morreu, e eu que sofri um tão agressivo, estou aqui, a comemorar os meus 5 anos livre da doença! Incrível como a vida se vira do avesso de um dia para o outro.

Há cerca de 3 meses tive então consulta com o meu novo oncologista, um médico jovem. No início fiquei um pouco sem jeito pois estava habituada a ser seguida por uma mulher... mas rapidamente o Dr Miguel Barbosa me deixou à vontade com o seu estilo discreto e voz calma e pausada.
Explicou-me que tinha boas razões para estar confiante pois a probabilidade de recidiva, após os 5 anos cai drasticamente!

Fê-lo de uma forma comedida, o que evitou que eu saltasse por cima da secretária para lhe dar um beijo e um abraço de felicidade! Mas a verdade é que fiquei suuuuuuuper feliz por ouvir aquelas palavras!!

Tão feliz, tão feliz, que só ontem, quando recebi uma mensagem do hospital Lusíadas, é que me lembrei que tinha hoje de manhã uma série de exames para fazer!!

Acordei cedo, mantive-me em jejum e às 9h20 já estava a tirar sangue!

A enfermeira Ana, uma querida e experiente profissional, não conseguia encontrar uma veia boa para picar, foi um bocado desesperante. Fiquei com umas veias muito fracas e fininhas desde a quimioterapia...é é mesmo difícil dar com elas.

Eu mantinha-me aparentemente tranquila, as mãos pingavam suor e estavam geladas, mas com um ar sereno dizia-lhe: "tem tempo enfermeira, sem stress, ela há-de aparecer, não me está a doer", enquanto ela, já com a agulha espetada tentava encontrar a veia!
Depois de perceber que as minhas veias não estavam a colaborar, eis que decidiu picar no sítio onde nunca ninguém me tinha picado, na veia do pulso!! Não foi fácil, mas lá conseguimos.



Saio da sala, com esta cara de "esgrouviada", com 2 grandes pensos no pulso e no braço e lá vou eu para a próxima fase, a TAC abdominal!

Hoje posso dizer que já levei com a minha dose de radiação dos próximos anos, já que a dose recebida por uma pessoa num exame de TAC pode equivaler ao que recebe durante 3 anos no ambiente onde vive!!
Tive de ser novamente picada... e foi o que custou mais, pois o exame em si é indolor e rápido (10 minutos). Quando feito com contraste, eles injetam um líquido que dá um sabor metálico, a medicamento, muito intenso na boca e um ardor que percorre em segundos todo o corpo, que foi exatamente o que senti! É uma sensação mesmo muito estranha, mas como os técnicos nos explicam o que vamos sentir, tudo fica mais tranquilo.

Enquanto aguardava na sala de espera comecei a falar com uma senhora que lá estava! Via -se que tinha passado por algo idêntico a mim, não sei bem explicar porquê, mas senti que sim.

Mostrei-lhe o pulso, dizendo que tinha sido a primeira vez que tinha tirado sangue daquela forma e ela mostra-me o cateter que, no caso dela, tinham deixado para evitar outra picada.

Trocamos mais algumas palavras num ambiente de cumplicidade especial de quem está no mesmo "barco", e assim de repente, quando eu explicava o meu caso, ela disse, como se me conhecesse há anos:
" ...pois, eu sei.... tu tens um blog! E ajudaste-me muito, sabias?? Foi o enfermeiro Lino aqui do Lusíadas que me disse para ler o teu blog".

Neste preciso momento, vem a funcionária e chama-a para fazer a sua TAC. Ela voltou a agradecer todo o apoio e com um sorriso ternurento afastou -se...
Fiquei de coração cheio e com vontade de falar mais com ela!! Adoro quando conheço pessoas que chegam a mim através do blog, é tão gratificante!
Obrigada Susana...pelo carinho e pela vontade que me deste de escrever novamente no blog! E um beijinho especial ao enfermeiro Lino, que acompanhou a minha Quimioterapia desde o início (ainda na CUF). Estes enfermeiros são como anjos, que com a sua presença nos sossegam.

O próximo passo foi fazer a mamografia!
Apesar de ter feito mastectomia radical da mama direita, o médico pediu para fazer às 2 mamas.

Este exame é muito importante! Apesar da OMS ( Organização Mundial de Saúde) defender que a primeira mamografia deve ser aos 35 anos, aqui em Portugal é consensual fazer-se a partir dos 40. Depois deve-se repetir de 2 em 2 anos.

Depois de fazer a mamografia, entro para o gabinete do Dr Francisco Pimentel, um médico super experiente nesta área. Para além de uma referência, é uma simpatia e conversa sempre muito comigo. É caso para dizer que estamos, literalmente, em boas mãos!!

Observou atentamente os exames, disse logo que estava tudo bem e de seguida fez a ecografia mamária.
Perguntei-lhe qual o exame mais importante, se a eco ou mamografia. Na sua opinião ambos são fundamentais e complementam-se!

Em idades jovens e nas grávidas é consensual que a ecografia mamária é um exame de diagnóstico por si só esclarecedor na maioria das situações.
Na mulher depois dos 40 anos, a mamografia é o exame recomendado.

Ele disse algo como "a mamografia ou ecografia mamária, isoladamente, conseguem identificar grande parte dos problemas, com uma fiabilidade de mais de 70%. Quando fazemos os 2 exames de forma complementar, essa percentagem aumenta para quase100%".

Feitos todos estes exames, passou a manhã e eu já estava fraca e cheia de fome, mas ao mesmo tempo feliz por saber que está tudo bem com a eco e mamografia. Agora falta saber o resultado das análises ao sangue e TAC, que saberei no dia 11 de Outubro.

Oxalá tenha uma boa prenda de anos e no dia 19 de Outubro possa comemorar não só os meus 41 anos, mas também os meus 5 anos livres desta doença, um marco tão importante para mim e sei que para vocês também que me acompanham com tanto carinho...


Seguro agora esta bebé nos braços, a minha afilhada Mariana, com a confiança de um futuro feliz, com saude , onde poderei estar presente e acompanhar o seu crescimento, mostrando-lhe que mesmo nos maus momentos, podemos aprender e ficar ainda mais fortes!


Beijinhos








Comentários

  1. Ainda me lembro quando me deste a notícia... nem queria acreditar.
    És uma inspiração e um verdadeiro exemplo de vida. Para mim uma irmã e para a Mariana, o melhor dos presentes !
    Um privilégio ter-te nas nossas vidas e ainda vamos partilhar mmmmmuito!!! Adoro-te <3

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  2. Omg! Percorri o seu blogue na ânsia de saber notícias suas faz poucos dias! “Desesperada” encontrava apenas textos antigos! Hoje, abro facebook e encontro-a! Aliás a Dr. Margarida fez com que chegasse até mim..! Que feliz estou por si...! ❤️ Haja fé, foco e fé ❤️

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    1. Obrigada pelo carinho! Andei uns tempos sem escrever, mas ainda bem que o fiz pois vocês são tão queridas que merecem que eu vos vá pondo a par de tudo, sobretudo destas notícias maravilhosas, que nos dão força a todas!!
      Beijinho!

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  3. Nada com a morte para mudar a imagem de uma pessoa. Depois de mortos afinal somos todos bons. Conheci a dra Margarida Damasceno no hospital de s. João do Porto em virtude do meu pai, então com 59 anos de idade ter tido cancro. O seu comportamento de desinteresse para com o meu pai levou a que escrevesse no livro de reclamações a primeira e única vez na vida. Mostrou ao longo das consultas que assisti e foram todas uma falta de respeito e de qualquer tipo de sentimento para com o doente meu pai . Rancorosa e conflituosa assim era esta senhora, bem diferente daquela que aqui é descrita. Para mim esta senhora era o exemplo acabado de alguém que nunca deveria ter sido médica. Nem vou descrever as frases que vociferou ao meu querido pai nas consultas porque ainda hoje me doem. Era uma médica que apenas aplicava os protocolos para tratamento das doenças e que era sempre evasiva quanto se questionava a eficácia dos mesmos noutros doentes em que anteriormente tinham sido aplicados. Como diria o poeta "aqueles que por obras valorozas da lei da morte se vão libertando". Não aconteceu com a personagem em questão que não teve obra valorosa. Quero referir que não teve nada que ver com a morte do meu pai aos 61 anos de idade. Como também nada teve a ver com a vida dele a não ser dar-lhe preocupações e sofrimento aquando das consultas o que se refletia na sua fraca condição física e psíquica. Pela dor que nos causou só lhe desejo que a terra lhe seja leve como chumbo.

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    1. Compreendo o que diz, era uma pessoa especial e apercebi -me que a opinião não era muito consensual. Comigo correu tudo bem e habituei-me ao seu jeito assim meio que " desbocado". A verdade é que como tudo a acabou por correr muito bem, fiquei com um sentimento de gratidão grande por esta médica!

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    2. Hoje, os hospitais públicos e ao contrário daquilo que nos fez em crer tem EXCELENTES profissionais. É digo isto com conhecimento de causa até porque tenho a ADSE e frequento os hospitais privados. Mas minha bloguer que não conheço quero lembrar-lhe que vivemos num mundo onde a morte tem todos os direitos. Fique bem.

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  4. Hoje a pesquisar coisas na internet encontrei o teu blog Inês que saudade tuas e dos teus filhotes mãe e que grande Homem ao teu lado durante todo este percurso. Sou a tua antiga vizinha do 4 Esq que já não vivo lá mais também passei por um pequeno problema mama tive de retirar parte um beijinho enorme para vocês todos que bom saber que tudo já pertence ao passado .

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