Cancro meu: fazer análises - a espera que (des)espera

Hoje fui tirar sangue.
Estendo o braço, fecho os olhos e tento voar para longe dali.
Aparentemente estou relaxada, tranquila, mas é quando a enfermeira repara na minha mão completamente suada, que me pergunta discretamente: "sente-se bem??"

Aceno com a cabeça e explico que sempre tive pavor de agulhas. Tenho recordação de, em miúda, andar a esconder-me debaixo da mesa do consultório para evitar as temidas "picas".
Entretanto, já fui tão " picada" nos últimos tempos que já nem ligo. O pior é o aperto no coração... que não chega a doer, mas que assusta.

O verdadeiro medo não é da agulha, nem mesmo do tempo de espera até saber o resultado. Acho que nem é do que vier escrito no papel. 

É que eu gosto tanto de viver....sinto que ainda tenho tanto para fazer, tantos beijos para dar aos meus filhos, tanto amor para espalhar por aí.... Que o medo é esse, imaginar, nem que seja por segundos, que tudo isto possa não acontecer...e simplesmente desaparecer.

O meu filho mais velho ( 5 anos ) ontem, deitado no meu colo, sussurrou-me ao ouvido: 
- " mãe, sabes qual é o meu maior medo?"
- " diz, meu amor, qual é?"
- " é ficar sem ti e sem o papá..."

Olho-o nos olhos, engulo as lágrimas que me queriam escorrer pela cara e consigo sentir exatamente o mesmo que ele. As suas palavras ecoaram no meu coração  de tal forma, que não sabia o que dizer.... Limitei-me a dar-lhe um abraço e a dizer:
" a mamã está aqui não está? Isso é que importa, fofinho. Dá-me um abraço"

Senti que os nossos medos se uniram e se transformaram em puro amor. Consegui, durante aquele abraço apertado, sentir que o que conta  é o momento presente. A vida é agora. Não foi ontem nem é amanhã! 

A felicidade é o estado mais potente da nossa energia. É o estado em que nós desejamos que determinado momento dure muito além dele, que nos contagie e nos faça querer contagiar os outros.

Então, daqui até receber os resultados, o foco vai estar aqui, agora, sem desperdiçar um segundo, sempre  pronta a abraçar mais um daqueles momentos eternos. 



Beijo :-)

Comentários

  1. Ai, Inês, que já me fizeste chorar!!! Ainda agora acabei os tratamentos e já temo pela ansiedade desses exames futuros. Agora que tudo acalmou, cada ida ao hospital me faz pensar que posso ter de passar tudo outra vez ou que posso ter isto espalhado pelo corpo. Depois abano os pensamentos e insisto para não pensar mais nisso. Além de não querer morrer, a minha maior angústia é não poder estar cá para a minha filha. No último tratamento chorou nos 2 dias até ao momento de me ir buscar. Não podiam falar na mãe ou mesmo ver uma mãe nos desenhos animados que chorava lágrimas gordas, silenciosamente e sem se mexer. Desta vez a minha ausência marcou-a! Somos a base deles, a sua segurança e se isso treme, eles tremem também. Muita força!!! Tudo vai estar bem! E aproveita bem esses meninos de ouro. 1 beijinho

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    1. Obrigada, Joana! Quando passamos pelas mesmas coisas, conseguimos entrar nas almas uns dos outros e experienciar os mesmos sentimentos... Somos seres humanos. É normal sentirmos medo, dúvidas, momentos de incerteza, raiva,...
      Mas acredita que é preciso provedes sentirmos estás emoções pois só nos fazem lembrar como é importante viver cada dia de corpo e alma! Não é só a nós que alguma coisa pode acontecer... Qualquer pessoa pode ser surpreendida com uma doença a qqr momento! Vamos olhar para a vida com vontade espontânea de a viver e saborear! Um grande beijinho e obrigada pela tua partilha, querida Joana!

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  2. Não tenho palavras para te fazer sentir o quanto te admiro e o quanto me orgulho de ter a tua amizade!!!!! Beijo, enorme!!!!

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    1. Obrigada, Veronica! Eu sei disso e tens estado sempre aí atenta e tão querida....
      Um grande beijinho

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Dará tudo certo. O negócio é olhar para frente sempre! Estou muito feliz que fui ao médico hoje, ele me animou muito, agora só em maio. Viverei intensamente esses meses!!! Tenho fé de que dará tudo certo para a gente.

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    1. Claro que sim, Clarissa! Vai dar tudo certo! Temos é de viver intensamente o presente, que é afinal a única coisa que existe ;-)) não vale a pena estar a perder tempo com preocupações ou ansiedades que não nos ajudam e só prejudicam, né? É normal aquele frio na barriga, aquele pensamento mais negativo que entra sem pedir licença, mas o segredo está em não convidá-lo para sentar! ;-))

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